Quem nunca ficou de boca aberta ou com aquele sorrisinho maroto ao assistir uma propaganda publicitária da Coca-cola na televisão ou no youtube? Fala sério, eu curto demais o que aquela galera bola pra vender esse produto presente a mais de muitas décadas. Mas algo de novo nos holofotes merece nossa atenção.
Desde a estréia da campanha “Abra a Felicidade”, há sete anos atrás, a Coca-Cola tem usado uma campanha imponente e maciça, com ideais baseadas em promover tudo, desde o anti-bullying até a promoção da co-existência pacífica no mundo entre indianos e paquistaneses – Uma pena que estas campanhas não sejam legendadas, porque me emocionam muito! – Mas para o novo chefe global de marketing da empresa, Marcos de Quinto, a campanha tornou-se um demasiado moralista ou enfadonha. E que, segundo ele, não conseguiu alcançar prazeres mais simples, como desfrutar de uma Coca-Cola gelada em um dia quente.
Assim, no primeiro grande movimento sobre sua supervisão, a Coca-Cola estará encerrando o “Abra a Felicidade”, e uma nova campanha global chamada “Taste the Feeling” (que provavelmente chegará aqui como “Sinta o Sabor”) irá colocar o produto no centro de cada anúncio; como a Coca-Cola pretende conquistar mais consumidores na ferrenha e disputada categoria de refrigerantes. E, em uma grande mudança estratégica, a Coca-Cola vai adotar uma abordagem “one-brand” ou marca única, que irá unir múltiplas variedades como a Coca Diet e a Coca Zero em uma única campanha, ao invés de produzir campanhas distintas para cada variação do produto.
Não há nada de novo na fórmula, rótulo, cores ou design das latinhas e garrafinhas tão presentes no mundo, mas depois de sete anos, uma série de comerciais e campanhas publicitárias focadas em sentir-se bem ou críticas sociais construtivas será substituída pelo “prove o sentimento”, que se concentrará mais em produtos da Coca-cola por si mesmos.
Ao ler a entrevista do Marcos de Quinto e ler sobre a nova campanha da Coca-Cola, me saltou aos olhos a importância do storytelling em nosso dias, algo que faz todo sentido para estratégias de marketing e “branding” para igrejas atuais. E que conversaremos mais sobre o assunto em alguns posts futuros.
Storytelling é contar histórias
Na entrevista, o chefe de marketing fala apaixonadamente sobre levar a marca Coca-Cola em uma nova direção: uma direção mais humilde. Daqui pra frente os anúncios usarão um tipo de narrativa emocional associada a longo prazo com a Coca-Cola. Para isso, retratarão momentos diários como um primeiro encontro colocando garrafas de Coca-Cola na frente e no centro disso tudo (como sempre foi vai! Hehe). A nova campanha se resume em “voltar para os valores fundamentais da Coca-Cola”, disse ele, ressaltando que: “Nós temos falado apenas sobre a marca, mas falamos muito pouco sobre o produto.”
A Coca-Cola já não quer mais falar sobre “consertar felicidades” com idéias mirabolantes e de “alto nível”. Em vez disso, a nova campanha fala muito sobre “viver na intimidade e simplicidade de momentos.” E, ainda, fez referência a um slogan clássico e antigo – “Tenha uma Coca e um sorriso” – como um símbolo da nova direção da marca. E aí é que estão pontos a serem observados por todos nós.
Definir uma nova campanha para um marca gigantesca como a Coca-Cola é um desafio e tanto, marcado por grandes batalhas e ventos contrários com toda a certeza. Mas quantas vezes o Evangelho de nosso Salvador não passou pelos mesmos desafios? Sair da Judéia, entrar em Samaria e alcançar os confins da Terra demandaram (e ainda demandam) estratégia, esforço, perseverança, trabalho duro e direção de Deus. E não é a toa que ele nos criou como seres criativos. E é aqui que entra o tão falado “storytelling” dos dias atuais.
Storytelling é uma palavra em inglês, que está relacionada com uma narrativa e significa a capacidade de contar histórias relevantes e precisas. Consiste em um método que utiliza palavras ou recursos audiovisuais para transmitir uma história ou ideia central. Esta história pode ser contada de improviso ou pode ser até mesmo uma história polida e trabalhada. Também é muito usado no contexto da aprendizagem, sendo uma importante forma de transmissão de elementos culturais como regras e valores éticos utilizados em muitas universidades e cursinhos.
É difícil indicar uma data precisa da criação do storytelling, principalmente dentro do marketing e branding, mas é sabido que o método tem milhares de anos de existência, afinal de contas, contar histórias sempre foi uma característica do ser humano, muito antes mesmo de se existir a linguagem escrita. Transmitir experiências vividas através da oralidade é um dos maiores avanços tecnológicos do ser humano. O ser humano estabelece ligações interpessoais através do ato de contar histórias. Atualmente, o storytelling está presente em várias áreas de expressão, como o cinema, televisão, literatura, teatro, mídias sociais e até mesmo nos videogames. Isto porque, contar uma história interessante é uma das maneiras mais eficazes de se obter a atenção de alguém.
E se você ainda não sacou essa estratégia de marketing fabulosa, que tal olhar para vida de Jesus e seu ministério terreno? O que são as parábolas tão utilizadas por nosso mestre? Storytelling fenomenal e super bem aplicado! As parábolas eram (e são) interativas e visuais, possuem um clímax (ponto de virada na história), são capazes de despertar emoções, usam diálogos realistas, são apelativas a nível dos sentidos, elas tem um personagem com o qual o público se identifica e tem um conflito facilmente identificável e que no final é resolvido.
E é assim que devemos contar a história de nossas igrejas, a história do evangelho que nos alcançou, do Deus que veio ao mundo para nos salvar, contando histórias corriqueiras do nosso dia-a-dia, debatendo ideias e discussões que o mundo debate; não trazendo o mundo para dentro da igreja, mas saindo dela e sendo igreja no mundo. Contar histórias é o desafio de ser como Cristo foi!
Storytelling é avaliar sucessos
Enquanto os anúncios da “Abra a Felicidade” ganharam vários prêmios e emoções agitadas, a campanha em si não elevou o número de vendas, objetivo final e tão sonhado da empresa.
O que pode acontecer de igual princípio em nossas igrejas! Acho que certas vezes, podemos ficar presos em uma situação similar. É fácil pensar que nós fizemos um evento, banner ou campanha impressionantes e maravilhosos aos olhos, ou um website graficamente perfeito, sem considerarmos se eles realmente levam as pessoas a tomar as medidas que desejamos: conversão e engajamento (que eu gosto de resumir em discipulado verdadeiro). Um belo design e boas ferramentas não significam automaticamente uma comunicação eficaz (já leu sobre as implicações do talento nesse processo? Não? Clica aqui então!).
Em um nível mais elevado, é comum o erro de não definir metas ou não criar um processo para medir e avaliar o sucesso de nossas atividades. Em um ambiente de igreja, onde o tempo e dinheiro são muitas e ainda mais vezes limitados e escassos, é ainda mais importante ser intencional com esses recursos (financeiros e humanos), gastando tempo para se ser estratégico. Faça, avalie, corrija, repita e continue. É contando a história que podemos ver a reação do “público” e corrigir o que não funciona.
Storytelling é unir a marca
Um aspecto interessante da nova campanha do “Sinta o Sabor” é que os produtos Coca-Cola vão parecer mais como uma família unida e unificada. Não será incomum mais ver uma Coca Normal ao lado de uma Coca Diet ou Coca Zero em suas campanhas publicitárias. A ideia que querem passar é a de que há momentos em sua vida que você quer uma Coca-Cola, às vezes um deleite açucarado de energia necessário e outras vezes algo mais leve para acompanhar um rápido lanche, mas independentemente do seu clima e momento, há uma Coca-Cola para você, sacam?!
E é aqui que eu tive que rever meus conceitos. Nossas igrejas poderiam se beneficiar de uma unificação similar de suas marcas. Muito tempo e talento são gastos em “estilhaçar” e dividir diferentes ministérios em suas próprias marcas dentro de uma única igreja. O ministério de crianças se chama “Casa na Árvore”, o de adolescentes vira “Diferentes”, o de jovens vira “Pulse” e daí por diante…
Só porque os ministérios individuais querem ter seu próprio nome e logotipo não significa que eles devem obtê-lo (Há casos e casos, ainda não me convenci por inteiro, acho que pra alguns funciona, pra outros não, mas devemos olhar com cuidado para esse ponto. Acompanhe o raciocínio! Heh). Muitas vezes estaremos diante de um processo pessoal ou vontade própria de compartimentar os ministérios da “igreja maior” do que um exercício real de comunicação útil e bem sucedida.
Em vez de um grupo desconexo e programas dissociados, o que seria alcançado se sua igreja falasse, como um único ministério, e tivesse o que oferecer para as pessoas em diferentes fases da vida? Isto não só tornaria a sua comunicação mais fácil, como também criaria um vínculo mais forte entre os diferentes braços de atuação da sua congregação ou comunidade. É algo para se pensar não?
Bom, os benefícios e resultados que o storytelling traz estão aí para todos verem. “Contra fatos não há argumentos” disse um velho sábio. E é debatendo assuntos e novidades que conseguimos desenvolver ministérios cristãos que fazem o que foram chamados para fazer: sermos testemunhas de Cristo e sua obra redentora por todos os confis da terra, inclusive na internet.
Parafraseando a musiquinha do NX Zero feita para a campanha anterior, invista em storytelling e abra a felicidade que vem aí: “Vem curtir comigo, o dia já vem/ Abra a felicidade você também/ Vamos sentir algo novo/ Vem curtir comigo, isso faz tão bem/Abra um sorriso no rosto de alguém/ pra eu sentir como é bom”.
4 Comments
Show de bola esse post! Ajudou bastante 🙂
Que bom que ajudou, Aline! Ficamos mto felizes em saber! Continue aproveitando e não deixe tb de compartilhar! Deus abençoe 😉
Interessante essa reflexão sobre uma única marca para os ministérios da igreja. Isso é bom quando a igreja tem uma identidade visual corporativa bem desenvolvida e atraente, daí as identidades dos ministérios podem ser endossados dando uma liberdade ao nome mas sempre referenciando a identidade da igreja. Uma marca monolítica não seria atraente. Mas a individual também não passaria unidade ou sensação de pertencimento ao corpo da igreja. Apenas ao ministério.
Olá Anderson, como eu mesmo disse no corpo do post, há casos e casos, ainda não me convenci por inteiro desta onda, acho que pra alguns funciona, pra outros não, mas devemos olhar com cuidado para esse ponto atual e muito utilizado. Existem igrejas que não possuem jovens, outras que só possuem casados, outras possuem um grande número de idosos; cada realidade é distinta e específica. Nossa proposta não é dizer que um modelo é o correto ou errado. Nossa proposta é discutir, dividir e conjuntamente desenvolver pensamentos que expandam o reino de Deus na terra. Acreditamos piamente que aquilo que nos aproxima como seres humanos são nossas diferenças e não nossas semelhanças. Também sempre pensei que uma marca monolítica não seria atraente, mas tenho visto casos em que ela tem sido impactante em sua localização, e outros casos que não. Cada caso é sempre um caso mesmo. Obrigado pelo comentário e continue o bom trabalho na expansão do evangelho de Cristo! Abraços